quinta-feira, abril 25, 2024
Mais Notícias

IMS reconquista nota 7 na Capes: leia entrevista com a diretora Claudia Lopes

Professora Claudia Lopes, diretora do IMS, no dia da posse

O Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro (IMS/UERJ) reconquistou a nota máxima da Capes na avaliação quadrienal de 2017 a 2020. O reconhecimento adquiriu contorno especial diante do cenário de múltiplos desafios dos últimos dois anos e meio. A crise sanitária e social da Covid-19 e o ambiente adverso de desconstrução de políticas de saúde não foram uma barreira para as atividades e pesquisas conduzidas no Instituto. Durante este período, o IMS continuou suas atividades, desenvolvendo práticas que, inclusive, se mantiveram com a volta da rotina presencial. Em entrevista, a diretora Claudia de Souza Lopes aborda o cenário que culminou na nota 7, elencando e contextualizando os motivos que contribuíram para a pontuação.

IMS – O que o reconhecimento da Capes representa para o IMS e para a Uerj?
Claudia de Souza Lopes – Representa muito. O Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) do Instituto de Medicina Social já foi nota 7 no passado recente, e o retorno à nota máxima faz justiça à real posição do nosso programa no cenário das Pós-Graduações brasileiras, na área de Saúde Coletiva. Temos um histórico de reconhecimento tanto pelo pioneirismo na área quanto pela real produção do nosso corpo docente e discente. O PPGSC do IMS tem uma característica que nos diferencia de outros Programas – com exceção também do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA -, que é termos as três áreas de concentração: Ciências Humanas e Saúde; Política, Planejamento e Administração em Saúde; e Epidemiologia. Isso é um diferencial importante, que torna o IMS forte e com papel relevante na área de Saúde Coletiva e nas políticas de saúde no país.

Quem conhece a nossa história sabe do protagonismo que desempenhamos nas últimas décadas, especialmente na implementação do SUS, sob a liderança do professor Hesio Cordeiro e de outros professores e pesquisadores que ainda atuam no IMS. Temos diferentes gerações participando da rotina e da produção. Temos um diálogo profícuo entre diferentes gerações, que se expressam em diferentes iniciativas – como é o caso do Centro de Memória que está sendo construído. 

Então, esta nota 7 é uma alegria imensa, porque sentimos que a história, expertise e produção foram reconhecidas. É o reconhecimento do nosso trabalho não apenas quantitativo, mas também qualitativo, isto é, na forma como ele se capilariza e repercute na sociedade. Estamos o tempo todo produzindo ciência que pode ser, na prática, utilizada em convênios e colaborações nacionais e internacionais. Este é outro traço muito marcante do IMS, o fato de termos muitos convênios com outras universidades, com a Secretaria de Estado de Saúde (RJ), atuando na ponta, e com instituições estrangeiras.

IMS – E isso conta na avaliação da Capes, certo? Que outros fatores determinantes para a obtenção da nota máxima podem ser destacados?
CSL – Sim, conta. A avaliação da Capes tem dois grandes critérios de avaliação: um mais qualitativo, que passou a contar a partir do último quadriênio, que busca entender como cada pós funciona na prática. Por exemplo, como são as políticas relacionadas às cotas, como os programas lidam com essa questão, se existe política de permanência e acompanhamento dos estudantes. Nem todas as instituições que sediam os programas de pós-graduação têm políticas do tipo. A UERJ tem. Tem ainda a avaliação sobre as cooperações nacionais e internacionais, que redundam em produção acadêmica prestigiada. 

Tivemos ainda, em gestões passadas, dois seminários estratégicos que foram muito importantes para discutir uma série de situações importantes para o IMS e pensar o futuro. Para se manter atualizada, uma instituição precisa discutir a si própria e olhar para o futuro sem perder de vista o passado. É fundamental olhar para o passado, porque aprendemos com a nossa história para continuar o que deu certo e corrigir o que é necessário.

Existe um compromisso genuíno e dedicado do corpo docente com o IMS. Temos um ambiente muito favorável. Então, estou muito entusiasmada e feliz, porque tivemos dois anos e meio de pandemia, de uma tragédia imensa; e, apesar disso, conseguimos – docentes, discentes e funcionários – resistir e avançar. Outros lugares pararam, mas nós não. Continuamos com nossas atividades.

Além disso, o relatório Sucupira mostra que a comunidade do IMS está envolvida na dinâmica da avaliação e no preenchimento da produção. Outro ponto importante é que, em todos os congressos da área, nós contribuímos com uma ajuda de custo. Nós priorizamos a participação de nossos estudantes em congressos e eventos da Saúde Coletiva. Há um sentimento de comunidade e nós fizemos o dever de casa.

IMS – A questão da pandemia de Covid-19 é central em qualquer análise nos últimos dois anos e meio. Pensando em termos mais amplos, que incluem ensino e pesquisa no campo da Saúde Coletiva, no contexto histórico da crise sanitária mais grave nas últimas gerações e de um ambiente político bastante conturbado e hostil, de que modo a nova pontuação pode ser avaliada?
CSL – Eu vejo como uma enorme responsabilidade. A avaliação foi de 2017 a 2020, pegando o primeiro ano da pandemia. Uma parte do relatório tratava justamente da pandemia de Covid-19, dos impactos causados e de como os programas de pós-graduação em Saúde Coletiva lidaram com isso. A pandemia teve um evidente impacto negativo na gestão de todos os programas, no país todo. Mas a resposta dada pelas instituições da área da Saúde Coletiva reflete o amadurecimento de cada uma dessas instituições. 

O IMS foi chamado a responder à pandemia e nós o fizemos de uma forma muito proativa. Nossos professores estiveram presentes na mídia, informando e esclarecendo sobre a pandemia, disseminando recomendações sobre prevenção e cuidado. Internamente, respondendo às demandas da Reitoria e do Ministério Público pedindo que o IMS contribuísse na resposta à crise devido à nossa vocação e expertise. Muitas solicitações que chegavam, e eu atuava junto à Reitoria, eram demandas sobre a forma como a Uerj deveria agir. E a Uerj respondeu muito bem, tanto através do Hospital Pedro Ernesto (Hupe) quanto através de inúmeras pesquisas nas quais seu corpo de pesquisadores se engajou. Na questão da vacinação, também nos saímos muito bem, porque toda a comunidade universitária teve acesso aos imunizantes. 

O IMS teve e tem um papel social fundamental. Não foi apenas com a pandemia que tivemos protagonismo social e político. O professor Hesio Cordeiro, que foi decisivo na fundação do IMS e um dos idealizadores do SUS, é um personagem central na história recente do país. Nossas pesquisas conduzidas em diferentes áreas e nossos cursos de capacitação que atendem prefeituras e profissionais de saúde que atuam na ponta também fazem parte da nossa vocação de contribuição à sociedade. Portanto, temos uma responsabilidade com os desafios que surgem no presente e com os desafios do futuro. Quando recebemos a nota máxima no programa de pós-graduação acadêmico, esta responsabilidade ganha mais peso.

IMS – Em termos práticos, quais os ganhos para o IMS?
CSL – Em termos financeiros, não muda nada. A dotação para cursos 6 e 7 é a mesma no âmbito do Programa de Excelência Acadêmica (PROEX). Os recursos estão mantidos, neste sentido. 

Dentro da UERJ, a nota 7 tem uma importância especial porque amplia a visibilidade da Universidade e legitima suas ações perante à sociedade. Para os estudantes, é um motivo de orgulho e inspiração. Além disso, tem um aspecto final que eu gostaria de destacar. Quando voltamos à rotina presencial, conseguimos aproveitar uma série de práticas que aprendemos durante a pandemia. O ensino remoto, por exemplo, permite estabelecer pontes. Muitas disciplinas recebem alunos do país todo, de diferentes regiões, o que, eventualmente, numa situação presencial, não seria possível. É importante fazer uso desse aprendizado de maneira inteligente. Foi importante reocupar o IMS, muitas decisões e questões do cotidiano se resolvem melhor presencialmente, no olho no olho. Mas o aprendizado que tivemos nesses dois anos e meio tem sido importante e assimilado. 

Penso que ganhamos um impulso de legitimidade para estar, dentro da UERJ, presente em diferentes instâncias e ser uma voz ativa aqui dentro. E também uma voz ativa e influente fora da Universidade. Isso contribui para um reconhecimento maior da área da Saúde Coletiva, dentro de um cenário de desconstrução e adversidade. No próximo ano, questões sociais, de saúde e educação, serão muito importantes para o país. O IMS tem muito a contribuir nesse processo que virá. A nota 7 é um evento que nos dá esperança.