Análise: Nádia Cristina Pinheiro Rodrigues
O suicídio é uma das principais causas de morte no mundo, com cerca de 800 mil ocorrências diárias, segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2018). Dados apontam o crescimento das taxas de suicídio nas últimas décadas, especialmente em jovens (ROSENBERGet al., 1987; RODRIGUES; WERNECK, 2005; MACHADO; SANTOS, 2015). No Brasil, as taxas padronizadas de suicídio por idade indicam crescimento gradativo em ambos os sexos, de 1980 a 2014 (WHO, 2014). Entre 1979 e 1998, as taxas cresceram 43% entre jovens nas principais capitais brasileiras (SOUZAet al., 2002).
Osdados aqui apresentados descrevem a distribuição da mortalidade por suicídio nas capitais da Região Sudeste do Brasil de 1996 a 2015. No intuito de identificar mudanças anuais, utilizaram-se taxas específicas por faixa etária (suavizadas pelo método Loess), e calculadas taxas padronizadas, em homens e mulheres. Foi utilizado o método direto de padronização, tendo a população do Rio de Janeiro de 2015 como referência.
Dados de mortalidade e populacionais foram coletados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), respectivamente. As análises foram realizadas no software R versão 3.5.1.
Os dados apresentados nas figuras 1 e 2 indicam que, enquanto nos homens existe expressiva distinção entre os níveis das taxas dos adolescentes e das demais faixas etárias, nas mulheres, os níveis são mais homogêneos.
O Rio de Janeiro apresentou as menores taxas femininas ao longo do tempo, não ultrapassando o limite de 2.5 óbitos por 100.000. Observa-se tendência constante das taxas femininas ao longo do tempo, com ligeiro aumento na faixa etária adolescente nos anos mais recentes (figura 1).
No sexo masculino, observam-se no mesmo estado taxas em torno de 7/100.000, 5/100.000 e 2.5/100,000 em idosos, adultos e adolescentes, respectivamente. A partir de 2007, observa-se tendência ligeiramente crescente da mortalidade por suicídio no sexo masculino em todas as faixas etárias (figura 2).
Em São Paulo, observam-se tendência crescente das taxas femininas na faixa etária adulta e adolescente a partir de 2005, e ligeiro decréscimo das idosas nos anos mais recentes, de forma que as taxas femininas de idosos e adolescentes se aproximam em 2015 (figura 1). No sexo masculino, observa-se no estado tendência decrescente das taxas ao longo dos anos, com oscilações nos idosos e adultos a partir de 2003 (figura 2).
Em Belo Horizonte, observa-se tendência crescente das taxas femininas em todas as faixas etárias a partir de 2007 (figura 1). No sexo masculino, observa-se no estado tendência decrescente das taxas ao longo dos anos, sendo que a partir de 2007 elas crescem em adultos e idosos (figura 2).
Em Vitória, observa-se tendência decrescente das taxas até 2000 em idosos e adolescentes de ambos os sexos (figuras 1 e 2). A partir de 2000, as taxas femininas dos adultos tornam-se crescentes, enquanto que para idosos e adolescentes, o crescimento se dá a partir de 2010. No sexo masculino, observa-se no estado tendência crescente das taxas em idosos a partir de 2005. Adolescentes e adultos apresentam taxas decrescentes a partir de 2005 e 2007, respectivamente (figura 2). As taxas padronizadas femininas do Rio de Janeiro indicam que, apesar das flutuações ocorridas ao longo do período, existe uma tendência ligeiramente crescente de 1999 a 2015. As taxas padronizadas femininas de Belo Horizonte e São Paulo também mostram tendência de crescimento a partir de 2002. Vitória apresenta flutuações das taxas padronizadas femininas ao longo do período (figura 3).
As taxas padronizadas masculinas do Rio de Janeiro apresentam oscilações ao longo do período, mantendo-se aproximadamente constante a partir de 2003. Em São Paulo, observa-se tendência ligeiramente decrescente das taxas padronizadas masculinas a partir de 2008. Belo Horizonte e Vitória apresentam grandes oscilações a partir de 2000, mantendo tendência aproximadamente constante a partir da década de 2000 (figura 3).
Conclusão
A partir de 2010, o suicídio entre adolescentes do sexo feminino vem crescendo gradativamente em todas as capitais da Região Sudeste do Brasil. No Rio de Janeiro, esse crescimento também ocorre em adolescentes do sexo masculino. Com exceção de São Paulo, a faixa etária idosa também vem apresentando crescimento das taxas de suicídio masculinas em anos mais recentes.
Considerando o aumento das taxas de suicídio observado nos últimos anos, estratégias de prevenção continuadas e identificação dos grupos de risco são necessários.
Referências
MACHADO, D. B.; SANTOS, D. N. D. Suicídio no Brasil, de 2000 a 2012. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 64, p. 45-54, 2015. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0047-20852015000100045&nrm=iso >.
RODRIGUES, N. C.; WERNECK, G. L. Age-period-cohort analysis of suicide rates in Rio de Janeiro, Brazil, 1979-1998. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol, v. 40, n. 3, p. 192-6, Mar 2005. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15742223 >.
ROSENBERG, M. L. et al. The emergence of youth suicide: an epidemiologic analysis and public health perspective. Annu Rev Public Health, v. 8, p. 417-40, 1987.
SOUZA, E. R. D.; MINAYO, M. C. D. S.; MALAQUIAS, J. V. Suicide among young people in selected Brazilian State capitals. Cadernos de Saúde Pública, v. 18, p. 673-683, 2002. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2002000300011&nrm=iso >.
WHO. Brazil: suicide rates. 2014. Disponível em: < https://www.who.int/mental_health/suicide-prevention/country-profiles/BRA.pdf >. Acesso em: 01 jan 2019.
______. Suicides Key facts. 24 Aug 2018. Disponível em: < https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/suicide >. Acesso em: 01 jan 2019.