Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro

Exercício Físico e Perda de Peso: nem sempre um casamento feliz

Análise: Vitor Barreto Paravidino (IMS/UERJ)

A obesidade é um problema global de saúde pública que afeta indivíduos de todas as idades, sexo, raça e status socioeconômico. O exercício físico é parte importante desse quadro, como fator de prevenção, e fortemente recomendado com um componente em qualquer programa de tratamento para perda de peso, devido principalmente a sua relação íntima com o gasto energético. No entanto, observa-se que nem sempre os resultados esperados em programas de perda de peso são, de fato, alcançados. Vários estudos têm reportado perda de peso abaixo do esperado, com alguns indivíduos apresentando ainda aumento do peso corporal após o término da intervenção baseada em exercícios (McNEIL et al., 2017).

Pode-se dizer que, em geral, as estratégias utilizadas como tratamento para a obesidade (incluindo o exercício físico) são temporariamente eficazes. Apenas um quinto dos indivíduos atingem 10% de redução do peso corporal e conseguem manter o peso perdido por tempo superior a um ano (WING; PHELAN, 2005). Além disso, tem sido relatado também que apenas 30% da redução de peso previamente calculada seria alcançada através da prática de exercícios físicos em longo prazo (MELANSON et al., 2013).

Durante um período de déficit energético, várias adaptações fisiológicas e comportamentais ocorrem e parecem agir de forma coordenada para sabotar todo (ou parcialmente) o esforço despendido para manutenção do peso perdido. Uma das hipóteses que têm sido apresentadas para explicar esses resultados é o “efeito compensatório”. Em função do déficit energético produzido pelo exercício físico, é comum observarmos um aumento do apetite e do consumo alimentar, e uma diminuição das atividades físicas espontâneas.

Apesar de algumas divergências, o efeito compensatório nas atividades físicas espontâneas já foi observado em vários trabalhos, sobretudo em idosos (GORAN; POEHLMAN, 1992). Em estudos recentes do nosso grupo, também observamos redução das atividades físicas espontâneas em adolescentes (figura 1A) e adultos jovens (figura 1B) com excesso de peso quando eram expostos a sessões de exercício físico, independentemente da intensidade do exercício realizado (PARAVIDINO et al., 2016).

Figura 1: Redução das atividades físicas espontâneas em adultos (A) e do gasto energético com atividades físicas em adolescentes (B) ao longo do estudo.

Fonte: (A) Paravidino et al., (dados ainda não publicados); (B) Paravidino et al., (2016).

No entanto, quando as respostas individuais de perda de peso são analisadas, percebe-se uma grande variabilidade (MYERS, 2019), o que nos leva a concluir que os indivíduos respondem de forma diferente aos mesmos estímulos. Os mecanismos causais responsáveis por esse fenômeno compensatório, e até mesmo os motivos pelos quais alguns indivíduos compensam mais que outros, ainda precisam ser esclarecidos.

Em síntese, os profissionais de saúde devem ter cautela ao estabelecer metas de perda de peso individuais. Sabendo das diversas variáveis que podem interferir nesse processo, e ainda, o desconhecimento das respostas do “efeito compensatório” para cada indivíduo, a redução do peso corporal que será atingida através de um programa de exercícios não pode ser prontamente antecipada. Sendo assim, o foco somente na perda de peso pode ser frustrante. Considerando uma população altamente inativa e nosso papel como educadores, os objetivos com a prática de atividades físicas devem ter como foco a qualidade de vida.

Mesmo na ausência de perda de peso, a literatura é bastante sólida sobre os benefícios da atividade física regular. Assim, o incentivo à mudança de comportamento na rotina diária, reduzindo as atividades sedentárias e adotando um estilo de vida mais ativo (não somente através de exercícios físicos vigorosos, mas, principalmente, incentivando atividades físicas de intensidade leve a moderada) deve ser a principal abordagem visando melhorar o perfil de saúde da população.

Referências

GORAN, M. I.; POEHLMAN, E. T. Endurance training does not enhance total energy expenditure in healthy elderly persons. Am J Physiol., v. 263, p. E950-7, 1992.

McNEIL, J. et al. Dose-response effects of aerobic exercise on energy compensation in postmenopausal women: combined results from two randomized controlled trials. Int J Obes., London, v. 41, p. 1196-1202, 2017.

MELANSON, E. L. et al. Resistance to exercise-induced weight loss: compensatory behavioral adaptations. Med Sci Sports Exerc., v. 45, p. 1600-9, 2013.

MYERS, A. et al. Structured, aerobic exercise reduces fat mass and is partially compensated through energy intake but not energy expenditure in women. Physiol Behav., v. 199, p. 56-65, 2019.

PARAVIDINO, B. B. et al. Effect of Exercise Intensity on Spontaneous Physical Activity Energy Expenditure in Overweight Boys: A Crossover Study. PLoS One, v. 11, p. e0147141, 2016. WING, R. R.; PHELAN, S. Long-term weight loss maintenance. Am J Clin Nutr., v. 82, supl. 1, p. 222S–225S, 2005.

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