Ana Carolina Maia (estudante do doutorado em Saúde Coletiva do IMS/UERJ) e Rogerio Azize (pesquisador e professor do IMS/UERJ), estão participando do dossiê “Gênero, deslocamento e fronteiras no/do mundo contemporâneo”, da Revista Equatorial.
O artigo discute aspectos da economia da distribuição da diferença entre migrantes chegados ao Brasil a partir de dois casos emblemáticos da década de 2010: os haitianos e os venezuelanos. O material empírico analisado são reportagens jornalísticas sobre a chegada desses migrantes no país, nas quais são veiculadas percepções de gestores, políticos, organismos internacionais/ONGs e da própria população brasileira, com foco especial em supostos riscos que estes fluxos migratórios oferecem à saúde no Brasil. Tanto o fluxo de haitianos como o de venezuelanos no país – que atingiram seu auge em momentos distintos, mas que guardam entre si similaridades -são “bons para pensar” a produção de fronteiras simbólicas a partir da mobilização de alguns marcadores da diferença presentes na construção da imagem desses migrantes.
A partir da observação de uma repetição nas reportagens de certa retórica associada ao perigo sanitário que essas populações representariam, buscamos analisar a dimensão de contágio que se reflete nestas menções a patologias e metáforas de perigo acionadas na descrição do maciço fluxo de migrantes. Os termos escolhidos para qualificar a chegada dessas pessoas ao país -“invasão”, “colapso”, “catástrofe” -constituem um ponto de inflexão, sobretudo a partir do caso venezuelano, na construção de um discurso hegemônico sobre o Brasil como acomodador exemplar de diferenças raciais, étnicas e culturais.