Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro

“Negacionismo e positivismo”, resenha do professor Martinho Braga (IMS) sobre a obra “Dicionário dos Negacionismos no Brasil”

O dicionário 1 organizado pelos dois Josés – Szwako & Ratton – permite ao leitor diferenciar muitos fenômenos que podem se confundir, como negacionismo, fundamentalismo e conspiracionismo, ou mesmo informação incorreta, desinformação e má informação. Os mais de 100 verbetes que compõem o Dicionário dos Negacionismos no Brasil costumam primar pelas definições precisas, como é o caso do reacionarismo, distinto do conservadorismo. Essas distinções têm consequências, por exemplo, a caracterização do bolsonarismo como mais próximo do pensamento conservador, promotor de fake news e difusor de teorias da conspiração. Além disso, os autores apresentam tipologias cuidadosamente construídas, como é o caso dos três principais traços de anti-intelectualismo – irracionalismo, instrumentalismo e populismo – e os próprios seis tipos de negacionismo – científico, climático, dependente, histórico, estatístico e estrutural. Lendo alguns verbetes, aprendi como esse instrumentalismo marcou a Ditadura Militar no Brasil e atravessou o governo de Jair Bolsonaro, ambos avessos ao potencial explicativo e crítico das Ciências Humanas, ambos apegados ao “aplicado” por oposição ao “abstrato”. Além disso, percebi os traços de negacionismo histórico que marcaram os pronunciamentos desse governo sobre o período citado. A leitura desse dicionário certamente suscitará outros aprendizados e percepções entre integrantes da área de Saúde Coletiva. Não sendo possível sintetizar as quase 400 páginas que compõem a obra em uma resenha, optei por sinalizar aquilo que considero fundamental para a comunicação em saúde.

Paulo Freire, Bruno Latour, Giorgio Agamben, Naomi Oreskes e outros(as) intelectuais imprescindíveis para compreender um tema tão complexo merecem verbetes exclusivos, de maneira que o rigor de seus estudos sobre saber, ciência, Estado e mercado são expostos lado a lado de suas limitações e inclusive tropeços em investigá-los, como é o caso do teor conspiracionista identificado na reflexão sobre a pandemia de COVID-19 por parte de um dos mais citados filósofos contemporâneos. Isso sem falar dos(as) inúmeros(as) autores(as) citados(as) ao longo do desenvolvimento de argumentos no interior dos verbetes, como é o caso de Guy Debord, cuja obra sobre a espetacularização da vida comporta também contribuições específicas para compreender um dos elementos principais do fenômeno negacionista: a desinformação, ligada ao “surgimento da mentira sem contestação” (p. 107).

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