
GRUPO DE TRABALHO
Medicamentos: usos, efeitos, políticas, deslizamentos
Coordenadores:
Tiago Coutinho (FIOCRUZ)
Rogerio Lopes Azize (IMS-UERJ)
Título:
Palavras-chave: medicamentos; usos e contextos; incitação, proibição, regulação, classificação
Resumo:
Aquilo que classificamos como medicamentos ou drogas de forma genérica estão longe de ser um “em si”; estas definições passam por laboratórios, agências do estado, normativas internacionais, contextos locais, leis e, principalmente, pelo destino que o usuário final confere a estas substâncias. As fronteiras entre estas classificações são reafirmadas com virulência, mas um olhar superficial já verifica sua diluição e o tensionamento entre supostos dualismos como medicamento/droga, legal/ilegal, natural/artificial, tratamento/aprimoramento/prevenção, uso social/terapêutico, incitação/proibição. Esta perspectiva nos permite trazer um grande número de substâncias, drogas e medicamentos para a mesma mesa, ao situá-los como “objetos sócio-técnicos” (Vargas, 2003), que compartilham um estatuto móvel.
A partir do lançamento do Viagra, em 1998, observa-se uma mudança de paradigma no consumo de medicamentos: se, em um primeiro momento, estes artefatos da ciência foram desenvolvidos para curar doenças, nesta fase inaugurada pelo Viagra os medicamentos têm como meta ajustar quimicamente o indivíduo a uma condição construída social/culturalmente como ideal: Ritalina (produtividade, atenção), Rivotril (calma, felicidade),Viagra (virilidade, masculinidade) e Esteróides (força, aparência) são exemplos que se tornaram personagens da nossa cultura mais ampla, para muito além das farmácias ou receitas médicas. Através dos usos feitos destes medicamentos é possível perceber o surgimento de uma nova era em que a exploração do seu valor simbólico pela grande mídia passa a representar um poderoso instrumento de indução de hábitos para elevar seu consumo.
Em paralelo, assistimos a uma ampliação (ou retomada) de debates e pesquisas sobre os usos terapêuticos de drogas classificadas no espectro do ilegal, como a maconha e alguns psicodélicos (LSD, MDMA, psilocibina).
Partindo dos meios tradicionais de circulação dos medicamentos e dos novos meios que escapam do alcance da biomedicina, a proposta do GT vai ao encontro da razão estabelecida para este congresso: seja pensando questões de acesso mais democrático (no caso de remédios e usos terapêuticos), seja lidando com políticas de proibição seletivas, e ainda com momentos de pesquisa, produção, divulgação e usos, aquilo que se diz e o que se faz sobre/com medicamentos tem grande impacto sobre nossa democracia, frágil como frágil tem se mostrado o estatuto destas substâncias. Assim, o Grupo de Trabalho tem como principal meta reunir pesquisas e/ou reflexões teóricas sobre substâncias que transitam pela categorização “medicamento”, questionando paradigmas, ampliando fronteiras e diluindo classificações estabelecidas por diferentes campos de conhecimento.
Neste sentido, são bem-vindas ao GT resultados de pesquisa ou relatos de experiência que reflitam sobre:
– as diversas etapas da biografia de um medicamento: produção, regulação, circulação, marketing, usos;
-tensionamentos e oposições comuns neste campo, como legal/ilegal, natural/artificial, tratamento/aprimoramento/prevenção, usos social/terapêutico, endógeno/exógeno, eficiência/placebo;
– contextos de laboratórios e produção científica;
– deslizamentos das substâncias entre “drogas” e “medicamentos”;
– mídia, marketing, redes sociais, grupos de ajuda mútua/auto-ajuda, novas e antigas sociabilidades em torno dos medicamentos;
– identidade, empoderamento e a questão do “paciente informado”;
– dosagens, apresentações e consumo.