quarta-feira, abril 24, 2024
Eventos

Convocatória para apresentação de propostas de trabalho em GT para 6º Congresso Internacional da ABRAMD

6º Congresso Internacional da ABRAMD –
Drogas e Autonomia: ciência, diversidade, política e cuidados
7 a 10 de novembro 2017 – PUC Minas – Belo Horizonte

Vivemos numa sociedade imersa em práticas psicoativas. Quimicamente induzidas por expedientes exógenos e/ou endógenos ao corpo humano, tais práticas que, ao fim e ao cabo, se assemelham por implicarem alteração da atividade cerebral, são, contudo, dissemelhantes quanto às representações sociais a elas imputadas e à forma decorrente como designam, distribuem e distinguem populações e as próprias substâncias. As fronteiras, por vezes tênues, marcadas por termos como drogas e medicamentos, legal e ilegal, usos recreativo e medicinal falam de uma moralidade que atravessa tais representações e práticas.

Da alimentação à atividade física, da medicação à meditação, das visões do cotidiano à contemplação de uma obra de arte, estamos mobilizando meios de intervenção no funcionamento do órgão cérebro, cuja função de produzir pensamento não pode ser verificada pelo desempenho biológico desse órgão; ainda assim, um otimismo nem sempre justificado de parte do discurso neurocientífico tende a uma leitura reducionista/fisicalista – poderíamos dizer a um cerebralismo – do papel deste órgão, muitas vezes equivalendo cérebro e pessoa. A crescente compreensão da ingerência da dinâmica cerebral, enquanto parte do aprimoramento da regulação das condutas humanas, tem produzido refinamentos das tecnologias dos dispositivos de controle. Os argumentos nem sempre são novos, mas se atualizam pelas novas roupagens de velhos preceitos que insistem em acompanhar o saber científico, borrando fronteiras já difíceis de definir quando se pensa no necessário discernimento do papel político da ciência.

Assim, novos medicamentos são prescritos para os conhecidos comportamentos não ajustados, novos conceitos recobrem antigos preconceitos e perpetuam discriminações, especialmente, nos ambientes escolares e médicos, mas não somente. Se pensarmos a educação enquanto forma de interação social onde ocorrem mútuos processos de ensino-aprendizagem intencionais e não intencionais, temos que os processos educativos recobrem o conjunto das experiências humanas, sendo um fenômeno social inexorável, de tal modo que aprender-ensinar torna-se condição da existência humana e por ela estabelecemos nossa humanidade. Ou, como diz Carlos Rodrigues Brandão, “ninguém escapa da educação” (1982).

Essa percepção da educação como dimensão imbricada à cultura e à vida social abre ao diálogo com a antropologia, na medida em que as dinâmicas constituintes da cultura negociam sentidos que dão formas às variadas e complexas organizações sociais (neste sentido, podemos pensar inclusive em uma relação entre socialização, educação e uso de substâncias, em diálogo com Howard Becker); e com a história, para pensarmos dialética e diacronicamente as relações instauradas entre um dado lugar social (em tempos e espaço precisos) e o repertório argumentativo que dão sustentação político-ideológica aos meios pelos quais os indivíduos interagem. Se, por um lado, o campo disciplinar da história avançou no sentido teórico e metodológico ao longo deste último século, duas constantes questões esse campo mantém ainda hoje: a primeira é a ênfase nos processos de dominação e dos mecanismos do poder; a segunda, a insistência na capacidade de ação e de transformação social pelos atores, a partir do lugar social específico por eles ocupado (REVEL, 2009).

A intervenção química promovida pela medicina e pela indústria farmacêutica no intuito de apagar as dessemelhanças humanas tem criado os transtornos que visa combater. No espaço da escola temos as “doenças do não-aprender e [as] doenças do não-se-comportar” Moysés (2013, p. 16-17) deixaram de ser pontuais e, assim como nos outros domínios da vida tal intervenção passou a constituir um meio de atingir padrões de desempenho social, produtivo, sexual, cognitivo, etc., ao qual chamamos de medicalização da vida social.

Pelo exposto, identificamos uma tensão renitente, espraiada pelo social, caracterizada pela disputa de sentidos e representações a respeito das substâncias, drogas e medicamentos. O objetivo deste trabalho é, através de um diálogo interdisciplinar, produzir reflexões sobre a questão.

Partindo destas ideias, este GT pretende reunir trabalhos que visem:

– Refletir sobre as variantes das representações sobre substâncias, drogas e medicamentos nos diferentes espaços e tempos sociohistóricos;
– Abordar de forma crítica discursos científicos ou não sobre a fisicalidade dos processos cognitivos e formas contemporâneas de medicalização;
– Pensar os contextos de uso, circulação e representações sobre substâncias que prometem aprimoramento cognitivo e/ou uma melhor performance em termos mais amplos;
– Analisar os aspectos que interferem no modo como os diferentes indivíduos se apropriam, reelaboram e replicam saberes relativos às substâncias, drogas e medicamentos;
– Problematizar, em sentido mais amplo, as fronteiras entre legal e ilegal, drogas e medicamentos, assim como usos recreativo, medicinal e de performance/aprimoramento.

Coordenadores: Maria de Lourdes Silva (EDU-UERJ) e Rogerio Lopes Azize (IMS-UERJ)
Debatedores: Martinho Braga Batista e Silva (IMS-UERJ)

Informações para envio de propostas ao grupo de trabalho:
O período para submissão de Trabalhos para Comunicação Oral e Pôsteres é do dia 15/05/2017 a 16/06/2017.
Eixo Temático: 2 – Drogas: diversidade de usos, sujeitos, contextos, substâncias e abordagens de cuidados.

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