sábado, julho 27, 2024
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Lançamento do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental da Infância e Adolescência (LEPSIA/IMS/UERJ): 09/11

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Transmissão pelo canal do IMS no YouTube 

O Laboratório de Estudos e Pesquisa em Saúde Mental da Infância e Adolescência (LEPSIA), instalado no Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro da UERJ e cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPQ, tem como principal objetivo a investigação interdisciplinar em torno da Saúde Mental de Crianças e Adolescentes (SMCA), com ênfase na reflexão crítica sobre as complexas formas de adoecimento mental, sua captura pelo discurso psiquiátrico e suas relações com aspectos históricos, socioantropológicos, políticos, culturais e psicológicos, articulados ao exame dos critérios de normalidade e patologia e das formas atuais de subjetivação. 

O Laboratório faz parte da Rede de Pesquisas em Saúde Mental de Crianças e Adolescentes (RPq-SMCA), que reúne pesquisadores, docentes e discentes de diferentes programas de pós-graduação stricto sensu, tendo em comum o entendimento de que a colaboração intersetorial, o compartilhamento de saberes e a valorização da promoção de saúde mental são imprescindíveis para o avanço do cuidado e do sistema de proteção às infâncias e adolescências brasileiras, tendo a defesa da democracia e dos direitos humanos como valores norteadores e inalienáveis. 

O LEPSIA, constituído hoje pelo seu coordenador, pós-doutoranda, bolsista de Iniciação Científica, mestrandos e doutorandos da área de concentração de Ciências Humanas e Saúde do IMS, busca preencher uma lacuna no cenário da saúde mental/coletiva brasileira, marcado pela carência e/ou dispersão de pesquisadores e projetos voltados para a infância e adolescência, a despeito da maior relevância social, acadêmica e sanitária alcançada por este campo nas últimas décadas. 

Esta conferência busca divulgar e contribuir para a consolidação do LEPSIA, a partir do diálogo entre diferentes perspectivas, lugares sociais e campos de saber. A visada transdisciplinar tem como objetivo desentrincheirar o conhecimento para a construção de saberes e de uma ética do cuidado que transcenda o reducionismo dos discursos unidimensionais, sejam eles medicalizantes, psicologizantes ou outros. 

O autismo, escolhido como tema principal deste evento, vem se destacando pelo drástico crescimento de sua incidência nas últimas décadas. Se alguns chegam a cogitar uma “epidemia”, outros relacionam o aumento do número de casos a fatores como a desinstitucionalização, as modificações nos critérios diagnósticos e a popularização de terapias. O aumento das pesquisas relacionadas ao autismo pode ser considerado, portanto, ao mesmo tempo razão e efeito de sua maior visibilidade social, tornando o diagnóstico mais acessível aos pais e aos próprios autistas. Para analisar o fenômeno em todas as suas dimensões, não se deve perder de vista que o diagnóstico pode conferir maiores possibilidades de acesso aos direitos, serviços e cuidados. 

Portanto, torna-se necessário o aprofundamento de abordagens críticas que explorem as múltiplas dimensões do diagnóstico, como os aspectos da produção, consumo e mercantilização do autismo no século XXI em um contexto global. Entendemos que, a despeito da aparente padronização diagnóstica, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) não corresponde a um bloco homogêneo, seja em sua apresentação fenomênica, nos achados neurobiológicos, nas concepções psicológicas ou na própria experiência em primeira pessoa. O evento busca, assim, ir ao encontro dos estudos contemporâneos sobre o autismo, que convocam para o aprofundamento do debate no campo da saúde mental, da psicanálise, dos direitos e das políticas de cuidado. 

O TEA, se traz à cena questões específicas, também se constitui em importante “estudo de caso” a respeito das metamorfoses das concepções e experiências de infância na contemporaneidade e dos deslocamentos dos binômios ‘normal/patológico’ e ‘saúde mental/doença mental’, ampliando a pauta de investigação e de práticas em todo o campo da SMCA, que devem contemplar as dimensões éticas, sócio-políticas e psíquicas do cuidado, com destaque para os impactos subjetivos do diagnóstico na pessoa e sua família. A análise destas dimensões também contribui para a construção de estratégias com vistas a superação de agravos, a partir de ações territoriais, colaborativas e intersetoriais, que incluam o trabalho conjunto pais/cuidadores-criança, e considerem as peculiaridades culturais e os determinantes sociais de saúde envolvidos na construção dos laços afetivos-parentais e nas práticas de cuidado.