sexta-feira, abril 26, 2024
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Tese de doutorado do IMS ganha prêmio para a Saúde Coletiva com pesquisa sobre regulação de drogas

Dayana Rosa, ganhadora do prêmio Elisaldo Carlini (ABRAMD)

A tese de doutorado de Dayana Rosa ganhou o prêmio Elisaldo Carlini, concedido pelo 8º Congresso Internacional da ABRAMD (Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos sobre Drogas). O estudo, intitulado “O auto do [consenso] de Viena: Estratégias de legitimação no Sistema Internacional de Controle de Drogas”, foi reconhecido pelo caráter inovador no campo da regulamentação das drogas, das políticas públicas de prevenção, tratamento e redução de danos. Orientada pelo professor Martinho Silva, Dayana relata em entrevista que o prêmio é especial porque reconheceu um trabalho desenvolvido no campo da Saúde Coletiva. Na conversa abaixo, ela fala a respeito da importância da conquista, de sua trajetória acadêmica em pesquisa sobre drogas e do peso do estudo de doutorado no cenário atual de forças conservadoras em alta. Confira.

Qual a importância do prêmio e o que o IMS representou nesse percurso de pesquisa?

Dayana Rosa: Elisaldo Carlini foi referência mundial e um dos pioneiros nos estudos farmacológicos sobre o potencial terapêutico da cannabis e de outras substâncias. Então, receber um prêmio que leva o nome dele é uma grande aposta de que estamos no caminho certo. Esse reconhecimento é particularmente especial porque premiou um trabalho vindo da Saúde Coletiva, e isso só foi possível através da parceria com meu orientador, o professor Martinho Silva, e outros colegas que mostraram a importância da interdisciplinaridade na pesquisa e na política sobre drogas.

O que motivou a escolha pelo tema das drogas como objeto de pesquisa?

DR: O cerceamento de liberdade sempre foi uma questão para mim, que virou problema de pesquisa desde a graduação, através da internação compulsória de pessoas em situação de rua e/ou usuárias de crack no Rio de Janeiro, no contexto dos megaeventos. Mas logo entendi que seria mais estratégico investigar quem cria o desvio, e não o desviante, se eu quisesse pensar em soluções que atacassem a raiz do problema. Então, entrei no mestrado, também no IMS, investigando a CPI do Crack e seus parlamentares para, finalmente, chegar no doutorado estudando as estratégias de legitimação no sistema internacional de controle de drogas. Porque, mais uma vez, queria entender as regras do jogo e aprender com os vencedores (os empreendedores morais). Acredito que se eles conseguem fazer do proibicionismo uma vitória, podemos aprender com eles para fazer o contrário.

Qual o peso da pesquisa para o debate sobre drogas levando-se em conta o contexto atual de forças conservadoras em alta tanto no país quanto no cenário global?

DR: A pesquisa buscou contribuir para a aprovação de propostas diferentes daquelas que estão vigentes, ou seja, para mudar o direcionamento da política de drogas hegemônica. Isso significa dizer que, no atual contexto da política de drogas, precisamos de reformas ou revoluções normativas e culturais, que acompanhem o avanço científico e as necessidades socioeconômicas. Esse é, por exemplo, o caso do Brasil, que foi classificado como o país com a pior política de drogas do mundo (Global Drug Policy Index, 2021).

Assista

No dia 14/09/2021, a pesquisadora também participou de debate sobre o seu tema de pesquisa. “Perspectivas e dilemas da regulação da cannabis no Brasil e no mundo” inaugurou curso promovido pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM). Veja abaixo a íntegra do debate.