segunda-feira, abril 29, 2024
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No início de dezembro, Gulnar Azevedo, professora titular do Departamento de Epidemiologia e ex-diretora do IMS, foi eleita reitora da UERJ, em chapa composta com o também professor Bruno Deusdará (Instituto de Letras). Assumirá a gestão da universidade em janeiro. Em entrevista para o site do IMS, Gulnar recupera os motivos e a trajetória de construção de sua candidatura.

Pela segunda vez, o IMS terá um dos seus quadros docentes ocupando o posto de Reitor. Nos anos 1990, foi o saudoso professor Hesio Cordeiro, que hoje dá seu nome ao Instituto, quem comandou a UERJ. Gulnar explica por que, novamente, um sanitarista chega à Reitoria. Destaca que os desafios são inúmeros e reflete tanto sobre os entraves institucionais quanto o sobre ambiente político no qual sua gestão estará inserida.

IMS – O que te motivou a concorrer à reitoria?
Gulnar Azevedo: Na realidade, eu nunca pensei em ser reitora. O que me motivou foi ter a percepção, um ano atrás, da necessidade de recuperarmos um projeto para a UERJ. As inúmeras dificuldades e a insatisfação por parte de todos os segmentos, técnico-administrativo, estudantil e docente, eram evidentes. Percebemos que a universidade precisava de uma reorganização e de um investimento maior nas nossas finalidades: ensino, pesquisa e extensão.

Eu estudei na UERJ, tenho vivência no IMS e tenho trajetória de gestão na Saúde Pública. Concluí que poderia contribuir nesse processo.

IMS – Você não será a primeira integrante do IMS a chegar à reitoria. Nos anos 1990, o professor Hesio Cordeiro também ocupou o posto. Qual o segredo do IMS para “fazer” reitores?
GA:
Eu fui aluna do professor Hesio, depois trabalhei com ele e foi uma figura que incentivou o trabalho nas áreas de Medicina Preventiva, Saúde Coletiva e Medicina Social. Ele foi determinante não apenas nisso, mas também para o próprio Brasil, sendo um dos idealizadores do Sistema Único de Saúde (SUS). O fio que nos conduz é o fato de sermos sanitaristas. Temos um pensamento crítico, de atuação orientada para melhorar as condições de saúde. Isso nos faz ter uma vontade de contribuir com as ações maiores. A UERJ é a nossa instituição. Estamos ligados pelo caminho da saúde pública, que pode também ser aplicado no universo da educação.

IMS – Sua campanha buscou diálogo com as bases da UERJ, percorrendo e ouvindo unidades em busca de entender demandas e insatisfações. Qual o saldo desse esforço em termos de compreensão da realidade da Uerj e de unidade entre os diferentes componentes da universidade?
GA:
Sabemos que, a partir dessa caminhada de mais de um ano conversando com todo mundo – unidades acadêmicas e setores administrativos –, pensada estrategicamente para ser coletiva em prol de um projeto para a UERJ, é possível termos um diagnóstico atualizado dos grandes problemas, das propostas que já poderiam ter sido implementadas e não foram e do que se espera de uma universidade como a UERJ, grande, complexa, mas muito viva e com muita gente querendo trabalhar para colocá-la numa outra perspectiva de futuro.

IMS – Quais são os grandes problemas?
GA: Há problemas de todas as naturezas. Temos problemas sérios de espaço físico e estrutura, problemas de organização e processos administrativos, dos sistemas de informação, de não valorização da experiência dos nossos técnicos, de retrabalho nas unidades acadêmicas, de não utilização do potencial de apoio para programas de Graduação e Pós-Graduação. Também é importante incentivar que as pessoas pensem sobre o significado da universidade hoje em dia.

IMS – Sua carreira de pesquisa e ensino está dentro da área da Saúde Coletiva, cujo movimento tem muitas ligações com avanços e conquistas na cidadania e na democracia no Brasil. Quais os principais desafios da UERJ na promoção e manutenção desses avanços, especialmente se levarmos em conta que vivemos em tempos de forças antidemocráticas atuantes?
GA:
A UERJ é uma universidade popular, com iniciativas importantes que garantem essa característica. Uma delas é a ampliação do acesso a camadas economicamente desfavorecidas. Mas, se não houver a compreensão do papel de uma universidade na construção de um país, nós não andamos. Nossa vivência nos últimos meses na construção de um projeto para a UERJ teve como base fundamental o papel da universidade na perspectiva de inclusão e democracia. O tempo todo não deixamos de avaliar o contexto político, as dificuldades que enfrentamos e vamos continuar enfrentando, mas também as possibilidades de, no diálogo com todos os segmentos e com movimentos sociais, crescermos na perspectiva de uma universidade que, de fato, contribua socialmente e utilize todo o seu papel.